Anton Reiser é um livro do século XVIII, de autoria do alemão Karl Philipp Moritz. Nós tivemos a honra de desenhar o projeto gráfico da primeira edição brasileira, lançada no início de 2019 pela Editora Carambaia.
O P R O J E T O
Em meados de 2018, fomos convidados pela Graziella Beting para fazermos o nosso primeiro projeto para a Carambaia, editora que acompanhamos desde os primeiros títulos devido à enorme importância que dedicam ao design gráfico dos seus livros. Ficamos muito felizes com o convite já que para nós é motivo de muito orgulho fazer parte de um catálogo repleto de projetos gráficos incríveis de autoria dos estúdios e profissionais que mais admiramos no mercado editorial brasileiro.
O livro que nos foi encomendado é um clássico do século XVIII pouquíssimo conhecido no Brasil até então, mas tido como o primeiro romance psicológico do mundo. O título "Anton Reiser" é também o nome do personagem principal do livro e após a leitura do mesmo levantamos alguns pontos que nortearam o nosso projeto.
O primeiro foi a forte presença da Bíblia ao longo do texto, que nos fez conceber a ideia do objeto que gostaríamos de produzir: um livro solene, de capa dura e miolo delicado, sóbrio e sofisticado como o livro sagrado. O formato que adotamos — fechado 14x20 cm — segue as proporções do primeiro livro impresso em escala: a Bíblia de Gutenberg. E o miolo foi todo impresso no Biblion Print, popularmente conhecido como "papel-bíblia", e tradicionalmente usado na impressão de livros muito extensos, devido à sua baixa gramatura e espessura.
O segundo ponto — não menos importante — foi o conceito de dualidade, presente no fato de alguns especialistas considerarem que o personagem central do romance pode também ser lido como uma representação autobiográfica do próprio autor. Ou seja, de certa forma Anton Reiser é Karl P. Moritz e Karl P. Moritz é Anton Reiser. Daí surgiu a composição tipográfica da capa e da quarta capa em que as letras do nome do personagem e as do nome do autor se sobrepõem em sentidos invertidos, uma impressa em hot-stamping dourado e a outra em baixo-relevo, alternadamente.
C L I C H É
Para a sobreposição dos nomes, utilizamos um mesmo cliché que primeiramente foi utilizado para o hot dourado e depois foi invertido de posição para bater o relevo seco.
Esse processo de reaproveitamento de clichés não é muito usual, mas graças à experiência e empenho da nossa querida produtora gráfica Lilia Góes, conseguimos realizá-lo diminuindo significativamente os custos de se utilizar esses dois processos em um único projeto.
As cores cinza e dourado que aparecem na capa remetem novamente ao mesmo conceito de dualidade e contrastam as duas realidades do personagem: o que ele deseja ser e o que ele de fato é. Anton Reiser vive na miséria — representada pela cor cinza do papel da capa – mas vive em busca da admiração e do reconhecimento simbolizados pelo dourado.
T I P O G R A F I A
A tipografia escolhida para a capa e para os destaques do miolo é a Prophet, desenhada em 2016 pelo escritório suíço Dinamo que, apesar de ser um tipo sem serifas, possui uma influência manuscrita, irregularidades e estranhezas que se relacionam com a obra.
Já a mancha de texto foi composta na Noe, uma família serifada projetada em 2013 pela fundição tipográfica alemã Schick Toikka.
Q U A T R O P A R T E S
O romance é dividido em quatro partes. Cada uma delas se inicia com um pré-texto escrito pelo próprio autor, com local e data, e depois se inicia o capítulo propriamente dito.
Nós optamos por destacar esses inícios de capítulos incluindo ilustrações que intercalam essas páginas especiais de texto, até que a capitular indique a retomada da história.
A navegação das partes, bem como a numeração de páginas de cada uma delas, caminha verticalmente por cinco alturas diferentes – uma para cada parte e uma extra, centralizada, utilizada no posfácio e na nota do tradutor.
I L U S T R A Ç Ã O
Para ilustrar a epopeia de sucessos e frustrações de Reiser, convidamos Pedro Franz, um artista que admiramos há algum tempo e que tem em seu traço característico a confusão e a tensão que buscávamos para o projeto.
Os desenhos fazem parte de um grande quadro que o Pedro criou onde a confusão imagética das passagens do livro mistura a figura do personagem à do próprio autor.
Nós espalhamos alguns trechos dessa grande ilustração ao longo do miolo, sendo possível encontrar continuidades escondidas entre as páginas do romance.
R E S U L T A D O
Ficamos muito felizes com o resultado do livro e encontrar com o Anton Reiser nas prateleiras das grandes livrarias nos enche de orgulho. Mas melhor do que isso foi ter tido a oportunidade de trabalhar em condições tão profissionais, com pessoas altamente competentes e dedicadas numa editora que dá a devida importância ao projeto gráfico dos seus livros. Poucas vezes, sentimos o nosso trabalho como designer tão respeitado. Torcemos para que este projeto nos leve a outros livros e processos tão prolíficos quanto este.
F I C H A T É C N I C A
PROJETO GRÁFICO
GRAPHIC DESIGN
ESTÚDIO ARQUIVO
GRAPHIC DESIGN
ESTÚDIO ARQUIVO