Sinistra Um é a primeira antologia literária de novos autores da Editora Canhoto, e este é o vídeo utilizado nas redes sociais como convite para o dia do lançamento.
P R O C E S S O
Em uma das diversas reuniões feitas durante o processo de criação da Sinistra Um, surgiu a ideia de publicarmos um vídeo convidando as pessoas para o lançamento do livro. Na época, pensamos em fazer um vídeo dos livros chegando da gráfica, retirando-os das caixas, e folheando-os — um convite às pessoas a comparecer no lançamento e fazer o mesmo.
No entanto, contratempos acabaram mudando nossos planos. O livro demorou para ficar pronto, e alguns autores acabaram indo morar em outras cidades, fazendo com que a chegada dos livros perdesse um pouco de seu significado inicial. A ideia do vídeo, porém, resistiu e se transformou.
Uns dias antes, eu havia feito, por acaso, uma filmagem de um grupo de amigos andando pela rua. Não havia a intenção de utilizar aquele vídeo, mas, no final das contas, ele acabou servindo como trilha visual incidental para uma narração editada.
A ideia principal era usar as perguntas que Antônio Abujamra — ator, diretor e apresentador do programa de entrevistas Provocações, da TV Cultura — costumava fazer, e trazê-las para o primeiro plano: colocar as questões não como um meio pelo qual obter uma resposta, mas como a própria resposta. A pergunta como o início do novo.
Assim, fiz uma grande pesquisa pelos 15 anos em que o Provocações ficou no ar, usando inclusive trechos do áudio da sua edição de estreia, quando o programa tinha um formato diferente do que acabou o consagrando. Em vez de apenas uma entrevista, um programa continha várias entrevistas intercaladas com inserções de reportagens de rua faziam perguntas que depois se tornaram tradicionais, como “Como anda a cultura do seu país?” ou “Que livro você está lendo agora?”. No primeiro programa, que foi ar no dia 6 de agosto de 2000, estavam Mário Prata, Suzana Alves, Mário Chamie, Jorge Wilheim e Marina de Sabrit.
Por meio da pesquisa e buscando também na minha memória, escolhi entrevistas que considero emblemáticas. São elas: Sócrates Brasileiro, Rogério Pereira, Nicolau Sevcenko, Nuno Ramos, Wagner Moura, Lourenço Mutarelli, Vladimir Safatle, Jean Wyllys, Laerte Coutinho e Eduardo Sterblitch.
R E S U L T A D O
Inicialmente, imaginei que durante a edição conseguiria ir respondendo uma pergunta com a seguinte, mas ao selecionar as falas que me agradavam, percebi que o material era muito mais extenso do que supus. Como havia optado por um vídeo de curta duração, as perguntas foram se sobrepondo, e isso acabou sendo a característica mais marcante do vídeo: um excesso de palavras e de ideias.
O vídeo, portanto, consiste em uma algazarra de perguntas sem respostas, ilustrada por uma caminhada.
Para a música de fundo, meu sócio na Canhoto e razoável conhecedor de música clássica, Rafael Zanatto, recomendou que eu fosse pesquisar em Mahler. O nome da Sinfonia nº2, Ressurreição, influenciou simbolicamente a escolha pelo fato de a Sinistra ser o segundo título da Canhoto, e ter sido, de certa forma, nosso retorno à vida editorial. O trecho que foi para o vídeo é o finalzinho do primeiro movimento.
Por fim, a decisão das letras que compõem a palavra "Sinistra" irem surgindo uma a uma, como um jogo de forca, surgiu apenas como um recurso dramático, mas também acabou assumindo uma relação simbólica com o próprio projeto da antologia: oito pessoas e letras, algumas mais semelhantes entre si, outras menos, juntando-se para formar uma unidade e, assim, significar o conjunto.
H O M E N A G E M
Além de convite para o lançamento do livro, o vídeo acabou funcionando como uma forma de homenagem póstuma ao Abujamra. Ele exerceu grande influência durante a elaboração do livro, e morreu meses antes do lançamento da Sinistra, reforçando em nós a ideia de que a Canhoto pode não ser uma janela aberta para o mundo, mas certamente tenta ser um periscópio sobre o oceano do social.
F I C H A T É C N I C A