O Acre existe é o livro que narra a história do documentário de mesmo nome. Primeira obra do jornalista Paulo Silva Junior, este vídeo foi feito para promover a reedição do livro feita pela Editora Canhoto.
C O M E Ç O
Como já havia sido feito um vídeo de convite para o lançamento do livro anterior da Canhoto, a Sinistra Um, a vontade de fazê-lo novamente para a nova publicação já existia desde o começo do projeto.
Dessa vez, o que havia de base para a fatura do vídeo era completamente distinto, pois, pelo fato do livro ser cria do documentário, a quantidade de material audiovisual era gigantesca e, portanto, uma das necessidades era escolher quais cenas de um filme de quase duas horas simbolizariam um filme, ou melhor, um livro de um filme em um minuto e meio.
No entanto, uma edição usual das cenas resultaria em algo mais parecido com um trailer do filme do que com um vídeo relacionado ao livro em si. Portanto, uma das premissas foi a que produzíssemos uma filmagem nova e relacionada diretamente ao livro. Daí a ideia de colocar o autor lendo um trecho da obra.
N A R R A Ç Ã O
Paulo Silva Junior é, além de jornalista e documentarista, radialista, e gostaríamos, desde o início, que essa sua técnica vocal — assim como seu local de trabalho, o estúdio de rádio — figurasse no clipe. A próxima escolha era qual trecho usaríamos.
Minha primeira sugestão foi uma parte que no próprio livro é descrita como “algo tecnicamente a oito mãos, um texto de retalhos sobre o que cada um tinha a dizer sobre aquela noite [de Ano Novo], no mínimo, pitoresca“. Pensei em usar esse trecho sobre o réveillon por ser um dos únicos momentos em que o livro se aproxima do campo da ficção — também por ser a única parte, além das entrevistas, que não é narrada exclusivamente pela voz do Paulo.
Porém, quando já estávamos no estúdio gravando o áudio e a cena para o vídeo, pensamos — eu e o autor — que o trecho, além de muito comprido, daria ao vídeo um tom lírico que definitivamente não representaria bem o livro. Além de correr o risco de soar prepotente. Assim, voltamos ao livro em busca de outra parte.
O trecho que foi para o vídeo me parece muito mais apropriado por diversos motivos: por ter a ver com rádio, por ser um relato de uma resposta do próprio autor, por dar a dimensão da viagem que foi feita, por citar nominalmente várias cidades e por dizer em voz alta como as dúvidas e incertezas fizeram parte da longa viagem pelo Acre.
E D I Ç Ã O
Na hora de trabalhar com as imagens que serviriam de trilha visual para a narração, a vontade era que o vídeo não se parecesse com um trailer convencional. Por se tratar de uma evocação da memória, achei que a sobreposição de lugares, de pessoas, de sensações e do próprio autor falando sobre tudo isso teria bastante a ver com o Paulo e com a Canhoto. Selecionei basicamente apenas trechos em que a câmera se desloca pelo espaço, sugerindo novamente a ideia de viagem e de trajeto.
Praticamente toda a comunicação visual da Editora Canhoto é em preto e branco, principalmente as imagens, e, portanto, tirar a cor das cenas do filme foi natural e ao mesmo tempo significativo. O documentário tem cores exuberantes, por conta da própria Amazônia, mas também por uma decisão dos seus realizadores. Ao vê-lo em preto e branco, contrastes e relações de luz vieram ao primeiro plano e demonstraram que o Acre, mesmo sem verde, é bonito.
Para a trilha — com a intenção de tentar dar uma certa independência para essa edição do livro em relação aos outros dois produtos relacionados (documentário O Acre Existe e primeira edição do livro), e ao mesmo tempo aproximá-lo do universo da Editora Canhoto — fui procurar no campo da música clássica algo que compusesse bem com o assunto. De forma quase que automática, o compositor Heitor Villa-Lobos, que dedicou boa parte de sua carreira a representar artisticamente a paisagem brasileira — especialmente a Amazônia — me pareceu a melhor escolha. Ao pesquisar sua obra, o nome da introdução da Bachiana nº1, Embolada, estabeleceu uma boa relação simbólica com o vídeo e, acredito eu, casou muito bem com a evolução das imagens e lugares que vão aparecendo.
O vídeo se coloca nessa antiga relação entre escrita e audiovisual de uma forma menos literal, mais confusa, e faz parte das coisas que existem mesmo que não durem quase nada.
F I C H A T É C N I C A