Sinistra Um é a primeira edição da coletânea literária de novos autores da Editora Canhoto.
I D E I A
Após um ano do lançamento do livro que inaugurou a Editora Canhoto, o romance Não Foi Bem Assim, o desejo de lançar um segundo título era grande — no entanto, não havia na época nenhum texto maduro o suficiente a ponto de ser publicado. Tivemos então a ideia de reunir oito novos autores que já frequentavam o universo da editora para escreverem pedaços de histórias — inícios de projetos literários que, futuramente, poderiam vir a ser publicados como livros independentes. Assim surgiu a Sinistra.
S I N I S T R A
O nome da antologia vem da ambiguidade do termo: o adjetivo sinistro, apesar de ser utilizado usualmente como sinônimo de algo funesto ou perverso, é também um dos nomes daquilo que é esquerdo, além de ser uma gíria (geralmente carioca) de algo legal, descolado.
Empregar a palavra no feminino vem por alguns motivos: criar um contraponto ao nome masculino da editora; o fato de ser uma espécie de revista, ou antologia, ou coletânea; se relacionar foneticamente com uma referência formal que tínhamos, a Granta.
Do nome também veio a quantidade de escritores que teríamos no livro, oito autores para oito letras da palavra "Sinistra".
P R O J E T O G R Á F I C O
Para este livro busquei algo que se afastasse da sobriedade do livro anterior da Canhoto. Queria uma estética mais questionável, algo que se aproximasse de uma beleza esquisita e menos óbvia das que se costuma frequentar no universo do design editorial.
A fonte extremamente condensada que utilizei na capa, nos títulos e nas capitulares dentro do livro era algo que desde o início do projeto me acompanhava: uma vontade de fazer com que as letras se estendessem verticalmente pelas páginas, atribuindo aos tipos um caráter mais pictórico do que o usual. Após encontrar a fonte que utilizaria, a Triple Condensed Gothic, fui investigando como poderia usá-la pelo livro, e acredito que cheguei em aplicações interessantes.
Nos abres de capítulos — na página onde aparece o título dos textos — ela preenche bem a página, ora horizontal ora verticalmente. Na aplicação como letra capitular, ela atinge a altura de oito linhas de texto, ocupando uma largura normal, como por exemplo no que acontece com as capitulares na fonte Trade Gothic da revista Piauí, uma outra forte influência no projeto gráfico da Sinistra e também da Editora Canhoto.
B O T Â N I C A
O elemento mais marcante e que melhor representa a estética provocativa que buscamos no projeto gráfico da Sinistra é o uso das ilustrações de plantas por todo o livro.
A beleza das plantas é quase um clichê, vide sua vasta aplicação decorativa nas mais diversas situações. Ainda assim, não usá-las por conta da sua banalidade me parece uma postura tacanha, e nesse projeto eu tentei colocar isso à prova — tentei, de certa forma, subverter seu uso.
As plantas também estabelecem uma relação simbólica com a Sinistra, por ela ser o primeiro número de algo que gostaríamos, como editora, que fosse crescendo com o tempo em uma grande série, sempre com novos autores experimentando novas histórias.
Assim, nós — Rafael Zanatto e eu, organizadores da coletânea — fomos em busca de uma ilustração que se relacionasse livremente com cada texto do livro. Assim, um texto que fala da Zona Sul do Rio aparece com uma palmeira; um que termina com uma fratura no pé é ilustrado por uma cânfora; e o texto da Cássia Vila, por uma acácia.
As ilustrações internas são de domínio público, retiradas de um banco de imagens, e a capa seria uma delas. Porém, por coincidência, minha mãe, que é artista plástica, estava começando a estudar justamente ilustração botânica enquanto a Sinistra estava sendo feita. Assim, pedi a ela que fizesse um desenho inédito para usarmos na capa. Ela escolheu desenhar ramos com flores de cerejeira, o que ficou muito interessante pelo fato desse tipo de flor ser conhecida por suas cores e representá-las em preto e branco acabou conferindo uma nova beleza para uma imagem tradicional.
R E S U L T A D O
A Sinistra acabou ficando com as características que imaginávamos, porém com uma intensidade maior do que pudemos prever. Ela ficou extremamente diferente das outras coisas que havíamos feito, e muito mais esquisita do que tínhamos em mente quando começamos, e isso, sem dúvida, foi uma grata surpresa.
Acho que dá pra dizer que, neste projeto, ao idolatrar a dúvida e caminhar no incerto conseguimos, de fato, alcançar algo novo.
F I C H A T É C N I C A