Jornal da hora é fruto de uma oficina de publicação que fizemos com alunos da rede pública municipal de Santo André, no segundo semestre de 2016.
T E X T O  &  I M A G E N S   
H A N N A H  U E S U G I
A  O F I C I N A

Em meados de 2016, fomos convidados pelo Programa Ecoa — parceria entre a Evoluir e o Instituto Alcoa, que atua nas escolas públicas das cidades onde a indústria de alumínio possui atividade — para realizar uma oficina de publicação com os alunos da EMEIEF (escola municipal de educação infantil e ensino fundamental) Demercindo da Costa Brandão, em Santo André — SP.

O grupo participante do Programa era composto por 12 alunos do terceiro ao quinto ano, que se reuniam na escola uma vez por semana durante o horário do almoço. Eles próprios criaram a demanda de fazer um jornal para a escola e pediram aos monitores do Ecoa que arranjassem alguém para ajudá-los nessa tarefa.

Sugerimos então um oficina de publicação com 4 encontros de aproximadamente 2 horas cada. Nela, tratamos de questões relativas ao texto, à diagramação e à impressão dos jornais, e mostramos uma grande quantidade de referências — desde as mais tradicionais, encontradas nas bancas de jornal, até as mais alternativas, do circuito independente.

C O N T E Ú D O

Na parte de texto, procuramos explicar o funcionamento de uma redação de jornal — passando pela definição das pautas, edição e revisão de texto, checagem de informações, copidesque etc. —, mostramos os diferentes tipos de textos jornalísticos (reportagem, coluna, análise, crítica), além de conceitos básicos de composição de texto como títulos, subtítulos, linhas-finas, olhos e chapéus. 

Os próprios alunos ficaram responsáveis pela definição das suas pautas e realizaram as reportagens e entrevistas por conta própria, cabendo à nossa reunião semanal o direcionamento do trabalho a ser realizado durante a semana sem o nosso acompanhamento. 

Também incentivamos a troca de conteúdos entre a equipe, encomendando ilustrações entre os participantes e fazendo com que um colaborasse com o trabalho do outro, realizando revisões de texto e sugestões de títulos e destaques, por exemplo.

A escolha dos assuntos procurou ser bastante livre, permitindo que eles sentissem prazer em escrever sobre seus hobbies, esportes, curiosidades e interesses. Somente após a conclusão das matérias é que agrupamos os textos em temas, fazendo o possível para não cortar ou deixar nenhum conteúdo de fora.

Nos preocupamos também em passar para as crianças a importância de creditar os textos e as ilustrações, fazendo com que elas sintam orgulho do próprio trabalho mas também entendam a responsabilidade de assinar suas criações.

O título do jornal — Jornal da Hora — foi uma criação coletiva das crianças durante os nossos encontros.

D I A G R A M A Ç Ã O

Na fase da diagramação, conversamos sobre o que é um projeto gráfico e quais são as possibilidades de apresentação dos conteúdos, mostrando as consequências de cada decisão relativa a escolha da tipografia, do diagrama, da colunagem, das margens e do formato da publicação. 

Também falamos um pouco sobre impressão, mostrando diversos métodos, materiais e tipos de acabamento, tentando relacioná-los a exemplos práticos de custos e tiragem. 

Apesar de termos centralizado a diagramação propriamente dita sob nossa responsabilidade — realizada em nosso estúdio, fora do horário dos encontros —, algumas decisões foram tomadas coletivamente, sob nossa direção, pelos próprios alunos.

O formato foi escolhido por eles com base nos exemplos que levamos. Eles queriam um jornal relativamente grande, maior que uma revista, mas que não fosse muito ruim de manusear até mesmo pelas crianças menores da pré-escola. Daí termos sugerido algo parecido com um A3 para o formato fechado.

O número de páginas e as cores foram decididas com base num cálculo de orçamento. Falamos para eles que tínhamos uma quantidade de dinheiro fixa e que com essa verba poderíamos: fazer mais páginas ou imprimir tudo colorido, e ter menos jornais; ou fazer apenas uma lâmina — 4 páginas — em preto e branco e imprimir uma tiragem suficiente para distribuir o jornal para todas as crianças, professores e funcionários. Eles escolheram a última opção.

Dessa decisão prática veio outra, em relação à tipografia: como abrimos mão das cores da impressão, nos veio a ideia de usar fontes vazadas para os títulos que pudessem ser coloridas pelas próprias crianças com lápis de cor. Usamos a família da Frontage que é bastante variada, com opções 3D, inline, outline, bulb e neon. Assim, o jornal preto e branco que poderia parecer sem graça ganhou um novo sentido e incentivou também as crianças a criar uma série de desenhos para colorir, dedicando parte do jornal para as crianças que ainda não aprenderam a ler.

Por fim, a nossa equipe nos solicitou que incluíssemos todas as fotos das turmas da escola, mesmo que em tamanho reduzido devido à falta de espaço nas páginas. Eles consideraram muito importante que todos os alunos se sentissem representados pelo Jornal da Hora e nós acatamos a decisão.

R E S U L T A D O

A experiência com a nossa primeira oficina de publicação foi muito gratificante. Ficamos muito felizes de doar nosso tempo e conhecimento para crianças tão inteligentes e interessadas, que apesar de tantos estímulos tecnológicos ainda se encantam com a tinta no papel.

O interesse delas pela produção e difusão de conteúdo também foi algo que nos surpreendeu e nos encheu de esperança nas novas gerações. Novos jornalistas, ilustradores, quadrinistas e, quem sabe, designers poderão ter surgido através do Da Hora. O jornal de papel sobrevive.
F I C H A  T É C N I C A

PROGRAMA 
ECOA   

EDIÇÃO, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO 
HANNAH UESUGI & PEDRO BOTTON   

TEXTO E ILUSTRAÇÕES 
ALUNOS DA EMEIEF DEMERCINDO DA COSTA BRANDÃO

FONTES 
FEDRA E FRONTAGE   

FORMATO FECHADO 
29.5X42CM   

IMPRESSÃO 
GRÁFICA PERFORMANCE   

MÉTODO 
OFFSET 1X1 COR   

PAPEL 
JORNAL 52G/M²   

PÁGINAS 
4   

TIRAGEM 
600 EXEMPLARES   

ANO 
2016